quarta-feira, 11 de junho de 2008

ARGUMENTO INICIAL



Seu Francisco é um senhor por volta dos 80 anos, aposentado e um tanto doente. Gosta de escrever e fantasiar a vida. Em um pequeno espaço de seu apartamento, cultiva rosas com muito cuidado e zelo.
Vive com dificuldade mas não perde o humor, e conserva o amor por uma pessoa à qual conta toda sua vida e fantasias. Conhecido como Seu Franco, nunca fala nos filhos, amigos e parentes, exceto quando escreve.
Na vizinhança todos o conhecem, mantém uma relação social com ele. Sabem de sua paixão por alguém de nome Estelita. Alguns parecem saber um pouco mais, outros muito pouco, entretanto Estelita é conhecida com o verdadeiro amor de Franco que ninguém jamais viu.
Quarta-feira é dia de visitar Estelita, Seu Franco coloca sempre sua melhor roupa e perfume. Toda vizinhança sabe quando é dia de ir vê-la. Ele fala nela com afeto e há um certo ar de respeito em não questionar e apenas admirar tal amor.
Certa noite, Seu Franco, está a escrever uma carta, contando como foi seu dia, seu aniversário de 80 anos. Ri sozinho ao escrever, mas tem um forte ataque de tosse e interrompe, colocando a carta numa caixa, junto a outras cartas.

Estelita, meu amor
Hoje estou rindo...
É meu aniversário, comemoro meus 80 anos. ..e meu filho me pregou uma peça...
Quando chegava em casa de mais uma consulta do médico, me surpreendo ao entrar...
Estelita, estavam todos lá, filhos, netos, vizinhos, amigos antigos, amigos recentes...muitas pessoas reunidas cantado parabéns... só faltava você.


Passado alguns dias, todos já sabem, é quarta-feira e é aniversário de Estelita. Seu Franco, já está a cuidar de suas rosas. Separa as mais bonitas e as reúne formando um pequeno buquê. Coloca-as na água e prepara seu banho. Animado se arruma melhor do que de costume. Vai se perfumar e percebe que seus perfumes estão todos quase no fim, escolhe um e coloca.
Após estar pronto, pega em cima da mesa, o presente de Estelita e as flores. Na calçada encontra os jovens vizinhos a fazer música e tomando chimarrão. Conversa com eles e segue seu percurso.
Franco passa por uma loja de perfumes onde tem o hábito de comprar. Conversa com as atendentes e gerente. Ao contar que se trata do aniversário de seu grande amor, ganha um perfume de graça
Após sair, numa praça ao parar para ver uma roda de capoeira, encontra uma pessoa conhecida conversam, mas são interropidos. Um menino passa correndo e rouba-lhe o presente e ele deixa cair as rosas. Conturbado, um tanto tonto, vê adiante a pessoa conhecida trazendo de volta seu presente. Uma moça recolhe as flores e lhe alcança.
Franco vai até a primeira parada e pega um ônibus e começam a vir recordações do tempo em que conheceu Estelita, quando ela dizia que sempre às quartas-feiras seriam seus encontros. È interrompido pelo motorista que já sabe seu ponto. Franco agradece e desce.
Segue adiante com recordações do tempo de juventude. Seu Franco está agora sentado num banco, com o presente ao seu lado e rosas na mão. São 16h45, voltam recordações...o tempo em que ele e Estelita estavam noivos e marcando a data do seu casamento...que seria numa quarta-feira às 17h.
De repente, são 18h, Franco havia tirado um cochilo sem querer. Deixa o presente e as rosas no banco e parte.
Minutos depois, uma senhora, Estelita, a mesma do retrato em sua casa, se aproxima. Senta-se no banco, cheira as flores, abre o presente, que é então todas as cartas de Franco em uma caixa. Há uma carta acima de todas - a primeira a ser lida. Ela abre.

Flor da minha vida
Há anos reinvento o amor que não tive contigo
Há anos te busco em meus pensamentos
Por anos me entreguei aos teus encantos
E por fim só tu me restaste
Todas as mentiras que disse e que já deves saber
Reuni e entreguei com humor para você
Vivo só e nossos filhos se foram ...
Há tempos não recebo qualquer visita
Meus amigos são aqueles do meu dia-dia
Se não te importas.. faço um pedido...
Quebre o frasco do meu perfume
E me leves contigo....

Teu amor Franco

Uma ventania forte começa. Estelita não está mais presente. As rosas voam assim como as cartas espalham pelo chão...reconhece-se então, que o local é um cemitério.
Seu Franco toma um café no centro, ao seu lado um casal, há atrás um rapaz, à frente uma moça que paqueram. Seu Franco ri em silêncio, toma seu café e lê o jornal. O casal ao lado começa uma discussão, da qual o tema é a mentira e a verdade. A moça levanta-se furiosa e deixa a mesa, o rapaz vai atrás dela. Ao passar derruba a sacola de seu Franco que contém o perfume.
Franco, ri, larga o jornal e vê Estelita a sua frente.
Eles conversam. Em seguida levantam-se e saem conversando naturalmente. No chão, o frasco de perfume quebrado ao lado.
Na galeria, após de saírem da lanchonete, Franco e Estelita conversam.
- Te disse contei do meu aniversário de 80 anos?
- E eu preferi a fantasia à realidade.
Risos ambos..
A cena mostra o quarto de Franco... vai até a cabeceira da cama onde está o perfume novo, que em seguida cai no chão. Seu Franco ao lado, dormindo, dá um suspiro forte e parte (morre).
O perfume caído ao chão sobre as paginas escritas, revelam “Sempre as quartas” – Um Romance de Francisco de Estelita.... As páginas começam a voar até algumas chegarem a sala, a página reveladora passa por debaixo da porta da casa. Do outro lado desta, um novo cenário: um asilo!
Nele um corredor, ao fundo sobre uma mesa, uma máquina de escrever, nela um texto de Francisco:

Uma coisa aprendi nesses anos todos,
a vida não teria graça sem a fantasia...
Do peso, a leveza
Da dor, um amor qualquer
Da falta, o preenchimento
Nessas linhas escrevo
Reinvento os meus dias
Todos os dias...

FIM



Melina Guterres

PRODUÇÃO